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sábado, 25 de fevereiro de 2012

[RESENHA] Emma - Jane Austen

Emma - seriado BBC

EMMA

É sempre difícil escrever sobre clássicos. Você estuda, pensa, pondera e pisa em ovos. E quanto se fala de Jane Austen, tudo fica mais difícil, pois as interpretações mudam de acordo com sua idade, sua posição social, sua religião, seu estado de espírito... São obras tão ricas, tão minuciosa e ao mesmo tempo tão simples sobre a vida comum, que fica difícil achar as melhores palavras.

EMMA é uma das mais conhecidas obras da Jane Austen. Publicada pela primeira vez em 1815, tem 197 anos e seu título refere-se à personagem principal Emma Woodhouse, bonita, inteligente, e rica - como se inicia o livro. É nesta primeira frase que percebemos uma diferença crucial desta para as demais obras da Austen, aqui Emma é uma personagem principal sem dificuldades financeiras, diferente das demais heroínas sofridas da autora.

Como Austen é ótima em descrever perfis psicológicos detalhados de seus personagens, Emma tinha alguns graves defeitos: era mimada, achava que sabia de tudo, gostava de ser bajulada e pensava que o mundo girava em torno dela. A própria Jane Austen uma vez comentou a respeito desta obra “Vou criar uma heroína da qual ninguém além de mim vai gostar”. Emma gostava de Highbury, vila onde morava, mas nunca tinha saído de lá, nem para prestigiar o nascimento de nenhum dos seus cinco sobrinhos. Mesmo assim, ela achava a vida daquele lugar cansativo, sem novidades e sem pessoas que fossem da sua altura na sociedade. Ela se achava responsável por ser o modelo de moça para aquele lugar. Tanto em educação como em modos e tratamento com as outras pessoas.

Emma vivia com seu pai, um velho de coração enorme, mas completamente idiota. Ele tinha uma vida enclausurada, tinha medo até do vento. Um hipocondríaco que queria impor aos seus amigos e vizinhos, todas as suas paranóias, porém da forma mais amável que conseguia. Por 16 anos desde a morte de sua mãe, Emma teve uma governanta que a amava como uma filha, e era sua confidente e amiga, a Miss Taylor. Esta logo no começo do livro se tornou Mrs Weston ao se casar com um cavalheiro viúvo. Emma considerava Mrs Weston a única pessoa que estava a sua altura para ser uma grande amiga, ela era a única que realmente escutava tudo o que Emma tinha para dizer, sempre se interessando por qualquer assunto que ela trouxesse. Mas ela não fazia o mesmo com os demais amigos da vila Highbury (coitada da Miss Bates), ela achava-os cansativos e cheios de assuntos rasos e simplórios, e visitá-los muitas vezes por poucos minutos, era um sacrifício que ela fazia só para cumprir tabela.

Mr. Knightley - seriado BBC

Junto a Mrs Weston, Emma também tinha em altas contas seu cunhado Mr Knightley (George Knightley, irmão de John Knightley casado com Isabella, irmã de Emma). Esses eram os únicos dois que Emma realmente escutava. Se bem que este segundo era o mais severo e que mais censurava Emma quando esta dava seus shows de imaturidade e criancice. Talvez por ter sido sua governanta, Mrs Weston fosse mais de concordar com Emma na maioria das vezes, ela era mais como uma confidente sempre disponível. Mr Knightley não, ele não poupava a língua na hora de educar Emma, mesmo sendo apenas 16 anos mais velho que ela. É interessante ao longo do livro entender a relação destes dois, não darei mais detalhes.

Neste pano de fundo, o livro descorre 500 páginas sobre o dia-dia daquelas pessoas de Highbury. Nada descomunal, nenhum evento fora da normalidade, tudo ocorre da mesma forma que acontece hoje no seu ou meu bairro. Coisas comuns. Fofocas entre vizinhos, pequenas festas e visitas nas casas um dos outros, uma vizinha mais faladeira, outra muito esnobe, outra muito pobre, outra muito calada. A primeira vista você pode sentir fatiga ao ler páginas seguidas de uma simples fofoca, e pode até ficar tão impaciente quanto Emma ficava ao ter que escutar tudo aquilo, mas Jane Austen tinha um motivo maior para escrever tudo aquilo. Como li em “Aprendi com Jane Austen”, do William Deresiewicz, a idéia da autora era mostrar que os pequenos detalhes do nosso dia-a-dia é o que realmente importa. “Mas é na velha vida trivial do dia a dia que reside verdadeiramente o sentimento” escreveu Deresiewicz. Quando ignoramos os detalhes, ficamos eternamente esperançosos por uma grande coisa que há de vir, que muitas vezes nunca chega. Era essa grande parte da frustração de Emma. Ela vivia ali, nunca tinha saído de lá, e ao invés de tirar o melhor daquele lugar, daquelas pessoas, e procurar sua felicidade por ali, ela esperava algo extraordinário, que nunca chegava. Aquela nossa velha mania de procurar nossa felicidade ao longe, quando ela está bem debaixo dos nossos narizes.

Além disso, Emma imatura como era, se achava o maior cupido que Highbury, quiçá toda Surrey pudesse ter. Dessa forma, ela se achava responsável pelos casamentos da irmã e de sua governanta, coisa que na verdade não tinha acontecido, já que só pensar no assunto não te faz responsável pelo ocorrido. Mas assim, cheia de si, ela achava que poderia “arranjar” outros casamentos. Então de forma extremamente presunçosa, ela procura a dedo uma moça (Miss Smith) que ela pudesse “aprimorar” e casá-la. Fazendo isso, ela não estava pensando em fazer bem para a moça, mas sim se vangloriar pelo ocorrido, como sempre faz. Neste momento, que fique claro que ela não faz isso por maldade, mas por pura imaturidade. Emma não era uma má pessoa, apenas boba. Uma leitura menos apurada talvez julgue de forma errada esta personagem. Como é uma característica da autora, em Emma conseguimos facilmente encontrar quatro estágios da personagem principal: erro, fundo do poço, reconhecimento do erro e redenção. Vale a pena ler como Emma passou por essas quatro fases e tentar tirar um bom ensinamento com isso. Para mim aprendi que a verdadeira humildade vem com a maturidade, e o dia a dia tem suas pérolas que precisamos estar atentos para reconhecê-las.

Excelente leitura para todas as idades.

"How stupid I am! How blind I’ve been! I have been so busy managing everyone else’s heart I do not know my own! "

Frase do seriado EMMA da BBC, baseado na obra, que consegue resumir bem a personagem.


Aldrêycka Albuquerque

11 comentários:

  1. Parabéns pela resenha! Eu tenho o livro Emma e já é o próximo que vou ler :D

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  2. Li o livro faz uns 2 anos, logo depois de ver a série da BBC. Irei ler de novo e rever a minissérie. Amo os dois.
    Emma é imatura mesmo, mas consigo entendê-la.
    E o Kmightley... Que sonho!!!

    Beijos!

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  3. Linda resenha! Tenho o livro e pretendo lê-lo logo! jane Austen sempre tão atual mesmo tantos anos depois do lançamento de suas obras...

    Abraços

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  4. Sou louca para ler Emma, tenho o livro mais ainda não peguei para ler, no entanto assisti ao filme e amei, fiquei completamente apaixonado pelo Mr Knightley! Lindo! XD
    Baixei também a série da BBC, agora só me falta tempo para assistir!

    Mega cheiros!

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  5. Danadinha você, heim?!
    Captou bem a mensagem do livro... Emma não era uma garota fácil!

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  6. Faz um tempo que estou com muita vontade de ler esse livro, um grande clássico. Jane Austen é uma autora que eu respeito muito por ser tão talentosa e tão a frente do seu tempo. Pretendo ler Emma e assistir a série da BBC o mais breve possível. Gostei muito da sua resenha, ficou incrível!!!

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  7. Ótima resenha, esse livro é um clássico e tanto, eu o quero na minha estante!!

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  8. Jane Austen é muito diva!!!
    O livro parece ser muito bom ^^

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  9. eu jah vi dois filmes (orgulho e preconceito e emma) e eu sempre gostei e (sempre achei linda) a epoca em q eles viviam, apesar de n querer viver naquela epoca, soh falta msm eu começar a ler os livros

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  10. ler faz a pessoa ir além de seus horizontes... eu gostei muito do livro!

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