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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Resenha: Agnes Grey, Anne Brontë


Um romance do século 19, em que o principal não é o casal romântico, mas sim a formação de caráter dos personagens e como isso interfere na sociedade e relacionamento entre eles.

A Agnes, a protagonista e narradora da estória, vem de uma família bem pobre. Ela tem uma irmã mais velha: Mary, seu pai é o Pároco da região e sua mãe era uma moça muito educada e de família rica que foi deserdada por se casar com um homem pobre. Por esta família passar por uma determinada situação em que seu pai acaba muito pobre e doente, as filhas com a mãe tentam economizar ao máximo para sobreviver e a Agnes decide ser preceptora. A mãe e Mary não querem isso para a filha mais nova, porém de tanto insistir e por necessidades financeiras ela consegue uma colocação em uma cidade distante em uma família de posses. Chegando lá seu primeiro pesar é a separação da família, Agnes sempre teve o carinho, apoio e afeto de seus parentes e em sua primeira vez distante não foi fácil para ela. Mas isso não foi nada comparado ao desafio de instruir crianças mimadas, arrogantes, egoístas e mal educadas que ela encontra nessa casa para corrigi-las.

A narrativa da Anne Brontë, é muito fluida e muito agradável de ler, ora ela narra fatos bem difíceis e com certa frieza, em outros ela narra com muita delicadeza e sensibilidade. A autora nos conta a estória pelo olhar da protagonista, sem ser prolixa, mas sim muito objetiva e instigando o leitor a cada capítulo. Em alguns artigos descobri que este livro pode ser, em partes, autobiográfico da própria autora que por algum tempo também cuidou da educação de crianças de pais ricos para ajudar no sustento da casa.
A heroína da estória é muito cativante, embora jovem e sem experiência, Agnes consegue ter um caráter impecável e tomar boas decisões. Mesmo tendo que educar crianças que não mudam e aguentar arrogância de pais egoístas e prepotentes, Agnes não perde a esperança que acredito seja sentida por vários professores até hoje de que aquele aluno que dá trabalho possa mudar. Outros personagens são detestáveis, principalmente os pais destas crianças e até adolescentes que a Srtª Grey tenta educar, e até alguns clérigos muito hipócritas durante a leitura que são bem desagradáveis.

““E por que ele iria se interessar pelas minhas capacidades morais e intelectuais: que importância terá para ele o que eu penso ou sinto?” Perguntei a mim mesma. E meu coração palpitou em resposta a essa pergunta.” Pág.: 191

O livro também tem um romance, embora não seja o foco, mas formaram um casal muito fofo. Um livro surpreendente, sensível e que não deixa de refletir vários aspectos e pessoas de nossa sociedade atual. Romance de formação que recomendo para todas as idades, com muito a ensinar e sem dificuldades na linguagem tornando-o acessível a todos.

Quote:
“Paciência, firmeza e perseverança eram as minhas únicas armas; e eu estava decidida a usá-las ao máximo.” Pág.: 55