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segunda-feira, 20 de julho de 2015

Resenha: Do Amor e Outros Demônios, Gabriel Garcia Márquez

Sinopse:Em 1949, o então jovem repórter Gabriel García Márquez acompanha a remoção das criptas do convento histórico de Santa Clara, e o túmulo de uma menina o faz lembrar as lendas contadas por sua avó. Segundo ela, no Caribe, havia uma marquesinha que tinha uma “cabeleira que se arrastava como a cauda de um vestido de noiva”. Venerada por seus milagres, ela foi mordida por um cachorro e morreu de raiva. Seria ela ali enterrada? García Márquez conta a história da filha única de um marquês, criada no convívio de escravos e orixás, e um padre incumbido de exorcizar os demônios que se acredita terem possuído a pequena, cujos cabelos só seriam cortados em seu casamento. (Fonte Skoob)

Garcia Márquez tem uma narrativa bem fluida e cheia de sagacidade que prende o leitor do início ao fim. O que mais gostei foi sua escrita direta e sem rodeios, mostrando o comportamento da época que se passa a estória sem firulas, escrita bem crua, feita para chocar e refletir. O autor com seu humor negro, descreve certas situações como forma de crítica social, criticando os padrões da época que reflete até hoje.

Os personagens são bem construídos e bem peculiares, Sierva María, de personalidade forte e mal compreendida para aquela época. Criada com os escravos ela se adéqua ao meio se misturando com eles. Tudo começa quando ela é mordida por um cachorro, e por ter o comportamento pouco convencional para uma filha de Marquês, a garota vira alvo de flagelo, um surto de raiva se espalha e Sierva é tida como raivosa e até possuída pelo demônio.
Falando ainda da protagonista ela é uma personagem sem limites, um espirito livre aprisionado num corpo de garota, que se tivesse asas voaria bem alto. A menina tem consciência de sua excentricidade, porém não a esconde o que ocasiona sérias complicações para sua vida e muita incompreensão das pessoas de mente tolhida da época.
O pai de Sierva é um tolo, covarde que devido a situações e influência, acredita que a filha contraiu raiva e isso foi a condenação da garota de apenas 12 anos. A mãe, Bernarda é uma mulher fútil, promiscua e sem amor. Despreza e odeia a filha desde o dia em que nasceu, e foi muito difícil ler as passagens desta personagem no livro, tornando-se odiosa para mim.
Então aparece o Padre Cayetano, bem culto e atormentado, se era certo adquirir tanto conhecimento e se questiona sobre suas atitudes. O que mais me cativou neste personagem foi que ele era um leitor voraz e nunca se negou ao conhecimento. Acredito que ele se empenhou, na medida do possível, para ajudar Sierva. E em certo momento ele, um padre com mais de 30 anos, se afeiçoa à garota.

A trama aborda questões polêmicas e que repercuti até hoje. Até onde a fé pode atrapalhar o crescimento de uma pessoa? Até onde ela esta ajudando?
O preconceito pelo desconhecido, estranho, como esse medo pode destruir vidas e famílias. O autor também traz à trama, a responsabilidade de uma vida que está em suas mãos e que suas decisões erradas e precipitadas podem ser desastrosas.
Na obra encontramos muitos questionamentos religiosos, padres e ex-padres que ora demonstram sua fé ferrenha em Deus, ora dão vazão aos seus desejos carnais e acham a religião balela.

Com uma narrativa crua e direta, Garcia Márquez, me conquistou com seu livro cheio de intrigas, amores, demônios e muita crítica social e ao fanatismo religioso.

Quote:
“ – Não se preocupe, minha branca – disse a escrava. – A senhora pode me proibir o que quiser, e eu obedeço. – E concluiu: - Só não pode proibir o que eu penso.” Pág.: 38

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