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domingo, 9 de julho de 2017

Resenha: O Perfume da Folha de Chá, Dinah Jefferies

Sinopse:
Em 1925, a jovem Gwendolyn Hooper parte de navio da Escócia para se encontrar com seu marido, Laurencek no exótico Ceilão, do outro lado do mundo. Recém-casados e apaixonados, eles são a definição do casal aristocrático perfeito: a bela dama britânica e o proprietário de uma das fazendas de chás mais prósperas do império. Mas ao chegar à mansão na paradisíaca propriedade Hooper, nada é como Gwendolyn imaginava: os funcionários parecem rancorosos e calados, e os vizinhos, traiçoeiros. Seu marido, apesar de afetuoso, demonstra guardar segredos sombrios do passado e recusa-se a conversar sobre certos assuntos. Ao descobrir que está grávida, a jovem sente-se feliz pela primeira vez desde que chegou ao Ceilão. Mas, no dia de dar à luz, algo inesperado se revela. Agora, é ela quem se vê obrigada a manter em sigilo algo terrível, sob o preço de ver sua família desfeita. Fonte
 

Com uma leitura fluida, a autora nos remete aos anos 1920 e 1930 com riqueza de detalhes de acontecimentos e costumes da época. Em suas pesquisas Dinah procurou escrever um romance com personagens críveis e atmosfera bem realística. Foi meu primeiro contato com sua narrativa que percebi ser bem sensorial, como gosto muito de chá parecia que o cheiro perfumava o ar durante a leitura.

Os personagens de sua trama são bem construídos, a autora quis colocar sempre um mistério em seus personagens. Laurence é um viúvo que se casa novamente, mas mantêm muitos segredos inclusive de sua esposa. Apesar de ser um marido amoroso e empresário bem-sucedido, ele tem umas atitudes que irritam, principalmente seu silêncio que atormentaram sua esposa e ao próprio leitor. Verity é a irmã de Laurence, e a pessoa mais egoísta, mimada, manipuladora e dissimulada de toda a estória, em cada capítulo que ela aparecia minha vontade era de esganá-la. Fran, amiga/prima de Gwen é uma pessoa bem otimista, independente e amorosa, uma personagem que o leitor se apaixona “a primeira lida”, porém ela tem um hiato na estória que só piora a situação de sua prima.
Gwen, a protagonista, chega de Londres bem jovem ao Ceilão, recém-casada e muito imatura tomando decisões sem pensar direito, movida por puro medo, desespero e preconceito. Essa é a parte que mais me incomodou durante a leitura. Demorei para finalizar porque o drama desta personagem é terrível e angustiante, que me emocionou muito custando a continuar a leitura, acredito ser esta a intenção da autora que mexeu comigo. Realmente é o drama dolorido que me fez refletir bastante sobre uma mulher na posição dela, naquela época. O leitor acompanha o amadurecimento de Gwen que vem de uma família rica e depois de se casar se ver nas difíceis situações que se envolve e acaba se desesperando o que torna sua vida bem complicada e infeliz, porém a protagonista é bem forte e tem muita vontade de viver, o que a ajuda no seu processo.

A estória traz muito a discutir, a posição da mulher nas décadas de 20 e 30 que ainda estavam engatinhando em suas conquistas, a questão da miscigenação de raças: brancos e cingaleses, tâmis, casamentos inter-raciais que na época, que se passa a estória do livro, não eram vistos com “bons olhos britânicos”, por causa de seus descendentes não serem fiéis a Coroa. Outra questão abordada foi o amor incondicional, aquele em que o sangue clama, que vai além da cor, aparência, raça, questões muito relevantes inclusive atualmente. A autora também escreve sobre mão de obra barata que se tem com pessoas de raças menosprezadas, as dificuldades de pessoas submetidas a supremacia dos brancos e ricos, as tentativas dos sindicatos (ainda bem nos primórdios) em conquistar condições dignas para esses trabalhadores, mal-remunerados que lutavam por sua sobrevivência.
Um sentimento que permeia muitos os protagonistas deste romance é a culpa e o medo numa dimensão que contagia o leitor, sentimentos bem difíceis de lidar, principalmente numa vida a dois. E nesta relação mostra a importância de quanto o diálogo é importante no casamento e quanto os segredos podem destruir pessoas, em especial os inocentes.

O perfume da folha de chá é um drama sofrido que indico a todos que gostam do gênero e àqueles que querem sair da zona de conforto dos romances românticos, porque este livro é de incomodar o leitor, com uma forma bem reflexiva e um desfecho bem conduzido e uma boa leitura.

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