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sábado, 25 de março de 2017

Resenha: Reparação, Ian McEwan

Até onde uma pequena mentira pode ser inofensiva? E quando agir por impulso traz consequências trágicas?

Sinopse:
 Na tarde mais quente do verão de 1935, na Inglaterra, a adolescente Briony Tallis vê uma cena que vai atormentar a sua imaginação: sua irmã mais velha, sob o olhar de um amigo de infância, tira a roupa e mergulha, apenas de calcinha e sutiã, na fonte do quintal da casa de campo. A partir desse episódio e de uma sucessão de equívocos, a menina, que nutre a ambição de ser escritora, constrói uma história fantasiosa sobre uma cena que presencia. Comete um crime com efeitos devastadores na vida de toda a família e passa o resto de sua existência tentando desfazer o mal que causou. 

É o primeiro livro que leio do autor e de início achei sua narrativa fluída, porém pela estória o livro exige que leia em doses homeopáticas por ser bem reflexivo e contado de vários pontos de vista. Na maior parte da estória temos o ponto de vista da Briony Tallis, uma menina nos seus 12 anos, muito inteligente, mimada, arrogante e precoce. Desde cedo Briony nos mostra o quanto é manipuladora e que com o tempo essa manipulação e crueldade consegue atingir muitos personagens de forma a mudar seus destinos.
Robbie é o melhor personagem desta estória, com seu senso de retidão, bondade e benevolência, um homem de bom caráter e que não mede esforços para fazer o correto, mesmo que isso o prejudique. De família humilde, Robbie é filho da empregada da casa dos Tallis e o patrão de sua mãe acredita que ele possa se dar muito bem nos estudos, o que acontece quando O Sr. Tallis paga todos os estudos de Robbie na faculdade como se fosse seu próprio filho. Cécilia, irmã mais velha de Briony, apaixona-se por Robbie e ele por ela. Como as diferenças sociais entre o casal são bem grandes e vários outros fatores(principalmente um causado por Briony) vão dificultar este lindo romance entre os dois.

A família Tallis é muito desestruturada que faz muita vista grossa no comportamento de Briony, Cécilia se ver na posição de mãe, já que a Sra. Tallis não quer e nem se esforça para assumi esse papel. E ainda temos Leon Tallis irmão mais velho que é totalmente alheio a família a não ser por se importa com Cécilia. As escolhas e ações de Briony faz o leitor refletir bastante até onde vai a maldade humana, não importando seu grau de inteligência, idade e condição social. Várias vezes fiquei pensando em quanta maldade e infinito sofrimento pode ser causado por um ato isolado de omissão, de medo, por não enfrentar as consequências de seus atos.

O livro também faz severas críticas as diferenças entre classes sociais. Que mais dinheiro, significa mais poder e este poder de influência pode destruir vidas e condenar inocentes a um destino cruel e muito injusto. O tratamento social desigual entre classes é gritante no livro, Robbie é uma pessoa humilde e pobre, porém muito inteligente e honrado, não tem as mesmas chances e tratamento que uma pessoa rica e de status elevados, mesmo essa pessoa rica tendo uma índole duvidosa, porque o conceito da sociedade geralmente afirma que “ricos e poderosos” não comentem atrocidades. Sei que este conceito tem mudado ultimamente nas pessoas, mas acredito que nem 10% foi feito ainda, por isso um livro muito atual.

Os vários pontos de vistas nos faz entender e refletir sobre cada um dos personagens, suas escolhas e motivações. É um livro com certa complexidade em seus personagens, que muda pessoas, inclusive eu fui um pouco mudada em certos aspectos pessoais. Livro mais que indicado, sendo necessário ao leitor.

Quote:
“Como pode uma romancista realizar uma reparação se, com seu poder absoluto de decidir como a história termina, ela é também Deus?"


Nota do Filme:

A adaptação para o cinema feita em 2008 é muito fiel ao livro, há algumas mudanças porque há passagens que funcionam melhor lendo que em ação. Mas a essência do livro, o que realmente o autor quis passar através de sua escrita está em todo filme.
As interpretações são maravilhosas não consigo ver outro ator vivendo Robbie senão o James McAvoy. A Cécilia está bem representada pela Keira Knightley, com sua leveza, bom senso, vanguarda e honra. A Briony foi interpretada pela Saoirse Ronan aos 13 anos, aos 18 com a Romola Garrai e idosa pela “Diva” Vanessa Redgrave. Posso afirmar que são interpretações de três atrizes sensacionais e mesmo gostando das atrizes continue odiando essa personagem detestável em todas as fases.
A trilha sonora por Dario Marianelli é espetacular, sensível, triste e muito bonita. Aquele ritmo feito no começo do filme com a máquina de escrever, batendo as teclas foi essencial para a atmosfera do filme e principalmente da personagem Briony, que tem fascínio por leitura e escrita, aspirante a escritora.
O filme foi concluído um pouco diferente do livro, mas só o caminho, porque sua finalização foi a mesma. Uma estória tocante, crível, triste, revoltante e muito emocionante.

Assista ao trailer:
Atonement, 2008

Um comentário:

  1. Conheço o filme e apesar de ser uma história arrasadora amei!Ainda compro o livro para ter os dois pontos de vista. Belas palavras Dany...

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