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segunda-feira, 28 de março de 2016

Resenha: Incidente em Antares, Érico Veríssimo


Uma cidadezinha cheia de maquinações políticas, bandidagem, “jeitinho brasileiro” e muita hipocrisia.
Sinopse:
Em dezembro de 1963, uma sexta-feira 13, a matriarca Quitéria Campolargo arregala os olhos em sua tumba, imaginando estar frente a frente com o Criador. Mas logo descobre que está do lado de fora do cemitério da cidade de Antares, junto com outros seis cadáveres, mortos-vivos como ela, todos insepultos.

Uma greve geral na cidade, à qual até os coveiros aderiram, impede o enterro dos mortos. Que fazer? Os distintos defuntos, já em putrefação, resolvem reivindicar o direito de serem enterrados - do contrário, ameaçam assombrar a cidade. Seguem pelas ruas e casas, descobrindo vilanias e denunciando mazelas. O mau cheiro exalado por seus corpos espelha a podridão moral que ronda a cidade.

Em Incidente em Antares, Erico Verissimo faz uma sátira política contundente e hilariante que, mesmo lançada em 1971, em plena ditadura militar, não teve receio de abordar temas como tortura, corrupção e mandonismo. (Fonte: Skoob)


A primeira parte do livro temos uma verdadeira aula de história do Brasil, principalmente sobre a Era Vargas. Confesso que foi uma leitura arrastada e maçante para mim. Porém esta primeira parte do livro é muito explicativa e formação de personagens muito importantes como as duas famílias “donas” da cidade: Os Campolargos e Os Vacarianos. Acompanhamos toda a guerra destas duas famílias que dominam toda Antares, certas partes são violentas e difícil de digerir. Guerras que aconteceram no Brasil são relatas historicamente com personagens reais e outros fictícios que formam a estória.

A narrativa de Veríssimo é direta, com detalhes e algumas vezes cômica. A segunda parte do livro apresenta o “Incidente em Antares”, e o autor usa o realismo fantástico para desenvolver o problema levantando os mortos e transformando-os em zumbis brasileiros. Essa parte do livro foi a que mais gostei, fluiu muito bem e dei muitas gargalhadas com as situações cômicas destes personagens. Nesta segunda parte temos alguns dramas também, estórias de pessoas bem sofridas que não é diferente da realidade de muitas pessoas da sociedade brasileira, principalmente a classe baixa de trabalhadores, o autor expõe os problemas como crítica social para que o leitor reflita sobre muitos problemas sociais que não estão distante de nossa realidade.

Cada personagem tem sua importância, o patriarca dos Vacarianos o Coronel Tibério, que com sua arrogância e poder manda e desmanda em tudo e todos, querendo ser modelo de postura e sendo um hipócrita, déspota cretino que ganhou meu desprezo e ódio durante toda a leitura. O Zózimo Campolargo não tinha muita força como personagem, porém sua esposa Quitéria ganhou grande destaque na trama, mesmo sendo meio vilã D. Quitéria é uma mulher forte, decidida e que me conquistou durante a narrativa.
Temos muitos personagens importantes, que dão seu alívio cômico como Cícero Branco, Barcelona, Erotildes e Pudim de Cachaça. Outros personagens são mais dramáticos e suas condições e situações levam os leitores à reflexão como Padre Pedro Paulo, João Paz, Valentina e o Maestro Menandro Olinda. Todos são personagens bem construídos e que suas participações não são coadjuvantes, sendo todos principais.

Portanto recomendo a leitura deste livro brasileiro muito importante e muito bem escrito e desenvolvido, que mesmo não ter tido ritmo de início para mim, foi muito gratificante continuar a leitura e ter ficado satisfeita com a estória toda.

Quote
“Baixei a cabeça, olhei para a minha própria sombra, com uma súbita vergonha de pertencer à espécie humana.” Pág.: 300

Um comentário:

  1. Foi realmente uma aula! Agora diferente de você, eu não achei arrastado, porque o tipo de narrativa me conquistou. Ainda bem que depois você acostumou e conseguiu gostar! Beijos

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